Moradores de rua podem usar 12 banheiros químicos; no local, faltam alimentação e atividades diárias
"Nem eu que durmo em qualquer canto tenho coragem de tomar banho num lugar daqueles", afirma o morador de rua José Cândido, habituado a passar o dia estirado com um grupo de amigos no chão da Praça da Sé, na região central de São Paulo. Ele faz referência ao Espaço de Convivência Jardim da Vida, equipamento conveniado com a Secretaria Municipal de Assistência Social (Seads), instalado no Parque D. Pedro II. "E todos aqui concordam comigo", diz, apontando para os amigos. Eles confirmam com a cabeça.
A inauguração do Jardim da Vida, em julho do ano passado, foi alardeada pela Seads. Na época, a secretária e vice-prefeita, Alda Marco Antonio, prometeu que no local haveria chuveiros, oficinas, serviços de escrita de cartas e 15 educadores sociais para encaminhar usuários para atendimento médico. Os moradores de rua também poderiam entrar nos programas de transferência de renda do governo municipal e, se quisessem, dormir no local durante o horário de funcionamento ou à noite.
A proposta original da tenda, porém, não foi cumprida. O serviço se limita a oferecer aos usuários, das 8 às 21 horas, uma televisão, cadeiras de plástico e 12 banheiros químicos com chuveiro. Na tenda, dezenas de moradores passam a tarde dormindo no chão. Também não é oferecida refeição - a principal crítica de quem recebia alimentação nos albergues e hoje não tem mais um leito para dormir. "Em nada adianta dar banho para o sem-teto e, depois, jogá-lo na rua, sem comida e sem cama", reclama Anderson Miranda, coordenador do Movimento Nacional da População de Rua.
Miranda menciona a principal reclamação dos movimentos de moradores de rua: nos últimos dois anos, a Prefeitura fechou dois albergues no centro e agora pretende desativar outros dois. Como informado ontem pelo Estado, serão quase mil vagas a menos na região central. "O que a Prefeitura está fazendo é acabar com os albergues para higienizar o centro e, para não dizerem que não pensam na população de rua, criaram essa tenda imunda no Parque D. Pedro. Já encontrei até fezes no chão daquele lugar", diz Miranda.
A falta de higiene do local é consenso entre os usuários. "Estamos até acostumados com o banheiro sujo", diz o morador de rua Rafael Reis. "Só passo aqui para encher minha garrafa de água ou para dormir um pouco no chão." A higiene dos banheiros é realmente precária. Ontem, a reportagem do Estado visitou o Jardim da Vida às 13h30 e flagrou fezes espalhadas nas proximidades dos banheiros e no gramado ao lado da tenda.
"Um equipamento como esse é útil e importante", defende o sociólogo Rubens Adorno, doutor em Saúde Pública e professor da Universidade de São Paulo (USP). "Porém, não pode estar em uma situação precária. A recuperação de um sem-teto só é possível quando ele consegue retomar sua dignidade. E não dá para se reestruturar sendo tratado em um local em que nem princípios básicos de saúde pública são seguidos e onde os usuários são tratados de forma desumana." No ano passado, a Seads prometeu entregar outros dois espaços similares ao Jardim da Vida, mas essa meta não foi cumprida.
OUTRO LADO
Por meio da Assessoria de Imprensa, a Seads informa que, "na proposta original, não consta a implantação de oficinas". Porém, o release divulgado pela pasta no ano passado previa oficinas de artes e esportivas. Segundo funcionários da organização que administra o Jardim da Vida, a falta dessas atividades dificulta o trabalho. A pasta afirma também que "encaminhamentos médicos são feitos" e que a limpeza é realizada por uma empresa terceirizada.
Fonte: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100205/not_imp506737,0.php
"Nem eu que durmo em qualquer canto tenho coragem de tomar banho num lugar daqueles", afirma o morador de rua José Cândido, habituado a passar o dia estirado com um grupo de amigos no chão da Praça da Sé, na região central de São Paulo. Ele faz referência ao Espaço de Convivência Jardim da Vida, equipamento conveniado com a Secretaria Municipal de Assistência Social (Seads), instalado no Parque D. Pedro II. "E todos aqui concordam comigo", diz, apontando para os amigos. Eles confirmam com a cabeça.
A inauguração do Jardim da Vida, em julho do ano passado, foi alardeada pela Seads. Na época, a secretária e vice-prefeita, Alda Marco Antonio, prometeu que no local haveria chuveiros, oficinas, serviços de escrita de cartas e 15 educadores sociais para encaminhar usuários para atendimento médico. Os moradores de rua também poderiam entrar nos programas de transferência de renda do governo municipal e, se quisessem, dormir no local durante o horário de funcionamento ou à noite.
A proposta original da tenda, porém, não foi cumprida. O serviço se limita a oferecer aos usuários, das 8 às 21 horas, uma televisão, cadeiras de plástico e 12 banheiros químicos com chuveiro. Na tenda, dezenas de moradores passam a tarde dormindo no chão. Também não é oferecida refeição - a principal crítica de quem recebia alimentação nos albergues e hoje não tem mais um leito para dormir. "Em nada adianta dar banho para o sem-teto e, depois, jogá-lo na rua, sem comida e sem cama", reclama Anderson Miranda, coordenador do Movimento Nacional da População de Rua.
Miranda menciona a principal reclamação dos movimentos de moradores de rua: nos últimos dois anos, a Prefeitura fechou dois albergues no centro e agora pretende desativar outros dois. Como informado ontem pelo Estado, serão quase mil vagas a menos na região central. "O que a Prefeitura está fazendo é acabar com os albergues para higienizar o centro e, para não dizerem que não pensam na população de rua, criaram essa tenda imunda no Parque D. Pedro. Já encontrei até fezes no chão daquele lugar", diz Miranda.
A falta de higiene do local é consenso entre os usuários. "Estamos até acostumados com o banheiro sujo", diz o morador de rua Rafael Reis. "Só passo aqui para encher minha garrafa de água ou para dormir um pouco no chão." A higiene dos banheiros é realmente precária. Ontem, a reportagem do Estado visitou o Jardim da Vida às 13h30 e flagrou fezes espalhadas nas proximidades dos banheiros e no gramado ao lado da tenda.
"Um equipamento como esse é útil e importante", defende o sociólogo Rubens Adorno, doutor em Saúde Pública e professor da Universidade de São Paulo (USP). "Porém, não pode estar em uma situação precária. A recuperação de um sem-teto só é possível quando ele consegue retomar sua dignidade. E não dá para se reestruturar sendo tratado em um local em que nem princípios básicos de saúde pública são seguidos e onde os usuários são tratados de forma desumana." No ano passado, a Seads prometeu entregar outros dois espaços similares ao Jardim da Vida, mas essa meta não foi cumprida.
OUTRO LADO
Por meio da Assessoria de Imprensa, a Seads informa que, "na proposta original, não consta a implantação de oficinas". Porém, o release divulgado pela pasta no ano passado previa oficinas de artes e esportivas. Segundo funcionários da organização que administra o Jardim da Vida, a falta dessas atividades dificulta o trabalho. A pasta afirma também que "encaminhamentos médicos são feitos" e que a limpeza é realizada por uma empresa terceirizada.
Fonte: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100205/not_imp506737,0.php
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