28/01/2011

Violência doméstica é principal causa da fuga para as ruas de meninos no Brasil e nos Estados Unidos

O personagem Pixote, do filme de Hector Babenco, e crianças com roupas sujas e rasgadas, perambulando pelas ruas, cheirando cola e dormindo nas calçadas da Praça da Sé, em São Paulo, ainda são as imagens predominantes para retratar os meninos de rua no Brasil. No entanto, mesmo sendo pouco divulgado, eles são numerosos também nos Estados Unidos e muitos acabam se envolvendo com o mercado da exploração sexual. Os chamados runaways (fugitivos) saem de casa pelos mesmos motivos das crianças e adolescentes brasileiros – devido ao abuso sexual e todos os tipos de maus tratos dentro de casa, segundo a tese de doutorado Crianças ingovernáveis: fugitivos de casa, moradores de rua e meninos de rua de Nova York e São Paulo, defendida na Universidade de Berkeley, da Califórnia.
O autor é o antropólogo brasileiro e professor da Universidade Católica de Brasília, Benedito Rodrigues dos Santos. Ele também é um dos fundadores do Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua, consultor do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e da Childhood Brasil.

O levantamento realizado, de 1999 a 2002, com 110 meninos (57 em Nova York e 53 em São Paulo) mostra que a dificuldade socioeconômica não é o principal fator que leva crianças e adolescentes para as ruas, mas, sim, os conflitos e agressões sofridos em casa. “Apesar das diferenças culturais, as histórias de vida dos meninos de rua em Nova York e em São Paulo  são muito semelhantes e a causa que os leva para as ruas é a mesma aqui e lá: a violência familiar.”, diz Benedito. Segundo o pesquisador, a pobreza leva muitas crianças e adolescentes ao trabalho informal, mas 80% delas não vai para as ruas.
Nos Estados Unidos, 50% dos entrevistados afirmam ter abandonado suas casas devido à violência doméstica e apenas 7% por problemas econômicos. No Brasil, 60% saíram por problemas afetivos e os 40% que afirmaram ter fugido por problemas financeiros, apontaram os conflitos familiares como fator determinante. Os relatos dos meninos, em Nova York e em São Paulo, também apontam que muitos acabam sendo alvos fáceis para a exploração sexual e entrando para o mercado da prostituição quando adultos.
Na avaliação de Benedito, parte da população dos países desenvolvidos ainda acredita que o abuso sexual infantojuvenil ocorre apenas no “terceiro mundo”, mesmo com as reportagens publicadas a respeito. “Meus colegas de universidade não entendiam que eu estava lá para estudar um problema deles, achavam que estava comparando “apples and oranges”, o que na nossa língua seria “alhos com bugalhos”, conta. “No entanto, o Brasil tem experiência e é referência das Nações Unidas em pesquisas neste assunto e temos muito a acrescentar.”
Com base na pesquisa, o autor agora está escrevendo um livro, no qual mostrará o porquê das crianças irem para as ruas e em que momento algumas saem e chegam até a tentar retornar para suas casas. Hoje, existem ainda poucas estatísticas sobre o assunto, segundo o professor, mas sabe-se que apenas 50% dos adolescentes que fogem para as ruas voltam depois de um ou dois anos, o restante segue vivendo em abrigos ou na própria rua.
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