Carlos Novack, 25, é um dos muitos paulistanos que enfrentam o desafio de acessibilidade em uma cidade como São Paulo, mas isto não o faz ficar parado. Carlinhos, como gosta de ser chamado, sempre está procurando algo para fazer e busca sempre ajudar as pessoas.
Ele mora com sua mãe há 23 anos no Jardim Damasceno, zona oeste de São Paulo, porém diz que não costuma sair muito pelo bairro, pois não consegue andar por ele. “Se eu precisar comprar alguma coisa no meu bairro ou eu fico sem, ou eu fico sem”, diz. Decidimos então ir até os lugares onde ele mais freqüentava para ver quais são as dificuldades que um cadeirante enfrenta em sua região.
Nossa viagem começou na porta da casa de Carlinhos, onde uma rampa foi construída para que ele conseguisse entrar e sair sem dificuldades. No dia que eu o acompanhei, um carro estacionado na frente atrapalhava nossa passagem, e tivemos que descer por um outro ponto da calçada. Caminhamos até o ponto de ônibus, pelo meio da rua, pois a calçada é estreita e cheia de buracos, e fica quase impossível até para um pedestre que não precisa se locomover em cadeira de rodas passar. Ao chegar à calçada do ônibus a guia novamente rebaixada ajuda Carlinhos a subir: “Esta rampa não foi feita pela prefeitura. Meu irmão, com ajuda da comunidade, que fez isso, para me ajudar”.
Carlinhos diz que, se têm algum compromisso, tem que sair de casa com duas ou três horas de antecedência, pois não são todos os ônibus que são adaptados para que ele possa subir. Uma lotação sentido terminal Cachoeirinha chega e com a ajuda do cobrador, Carlinhos é erguido até o espaço destinado a cadeirantes dentro da lotação.
Fazemos uma baldeação no terminal Cachoeirinha para o ônibus Metrô Santana, onde todos já conhecem Carlinhos e nos ajudam para que ele embarque com mais segurança. Ao chegar na estação do metrô Santana mais um desafio: sair do ponto de ônibus e chegar até o metrô, um percurso curto, mas que tem alguns obstáculos, como a calçada novamente cheia de buracos e a movimentação constante de pessoas com pressa.
Carlinhos e eu embarcamos no primeiro vagão do metrô e nossa próxima parada é a estação Paraíso. Ao chegar ali, mais uma surpresa: o elevador de acesso para cadeirantes está quebrado e não há outra opção a não ser se arriscar na escada rolante com ajuda de alguma boa alma.
Na avenida Paulista, a situação é muito diferente. As ruas são largas e as travessias de pedestres são tranqüilas. Às 13h, duas horas depois de sair do bairro Jardim Damasceno, estamos na rádio do programa de humor que havia entrevistado Carlinhos no dia anterior (por causa de uma foto, ele teve seus 15 minutos de fama). Carlinhos entra ao vivo e depois tira algumas fotos com os participantes do programa.
Carlinhos decide então ir até a Santa Ifigênia, reduto da tecnologia no centro de São Paulo. Fui com ele até estação São Bento, onde mais um elevador do metrô está em manutenção e ele precisa aguardar por volta de 8 minutos até um agente da estação vir ajudar. Ao sair da estação percebemos que a região do centro não está nada preparada para atender a população cadeirante. Carlinhos briga por espaço novamente com carros e ônibus.
Terminamos nosso percurso na estação rodoviária do Tiête, onde Carlinhos precisa comprar uma passagem para Minas Gerais, pois vai viajar com sua namorada na próxima semana _ali, os acessos são muito bem adaptados.
No final, percebi que este único dia foi vencido para um cadeirante que precisa fazer um esforço muito maior para realizar pequenas coisas. Apesar disso, percebo que Carlinhos gosta mesmo é de ajudar as pessoas, pois, ao nos despedirmos, diz que precisa correr para casa para arrumar o computador de sua irmã.
Se quiser acompanhar Carlinhos de perto, ele escreve todos os dias para um blog de esportes  (http://www.lanceactivo.com.br/carlosnovack/blog)  
Anderson Meneses, 20, é correspondente comunitário de Pirituba. 
@coabitar
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