Há 15 anos, governo federal tenta implantar rede de informações sobre violência infantil; iniciativa, porém, esbarra na falta de estrutura dos conselhos
Experiência e dedicação ainda são as qualidades necessárias para o combate à violência sexual de crianças e adolescentes em todo o País. Há quinze anos, a secretaria de Direitos Humanos do governo federal tenta implantar o Sipia (Sistema de Informação para a Infância e a Adolescência).
Mas a implantação do sistema - um banco de dados com números da violência infantil no País - ainda esbarra na falta de estrutura dos conselhos tutelares não só do ABCD, mas de todo o Brasil. Fato que dificulta a vida daqueles que lutam para fazer cumprir os direitos das crianças.
“Até onde eu sei, os conselhos tutelares de Santo André, São Bernardo e Diadema chegaram a alimentar com dados o Sipia, mas não sei se eles estão atualizados. A atualização desse sistema esbarra na falta de estrutura, de pessoal, ou de computadores”, ressalta o vice-presidente da Comissão Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Ariel de Castro Alves.
Em uma simples consulta ao Sipia é possível ter uma ideia de até que ponto o sistema está desatualizado. Ao pesquisar os registros de abusos sexuais no estado de São Paulo dos últimos dez anos, a busca retorna apenas sete casos.
“A falta de dados sobre os abusos sexuais atrapalham na hora de formular uma política nacional ou regional de combate a este tipo de violência. No momento, dependemos de informações e ações isoladas por parte de prefeituras, entidades assistenciais e conselhos tutelares”, completou Castro Alves.
Opinião compartilhada pela coordenadora técnica do Crami (Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos na Infância), Ligia Vezzaro Caravieri. A ONG (Organização Não Governamental), que presta assistência em situações de violência infantil em Santo André, São Bernardo e Diadema. atendeu no ano passado 232 casos de violência sexual.
“Muito do nosso trabalho é baseado nas nossas experiências diárias. Com certeza a existência de um banco de dados com informações de cada cidade iria facilitar no desenvolvimento de trabalhos personalizados”, ressaltou Ligia.
Não integrados / Questionados sobre as informações sobre abusos sexuais na região, os conselhos tutelares de Mauá, Ribeirão Pires e Santo André destacaram que iriam ter que procurar em seus arquivos essas informações, justamente pelo fato de ainda não estarem integradas ao Sipia.
Procurada para comentar o funcionamento do Sipia, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República não se manifestou até o fechamento desta edição.
Ele pode estar onde você nem imagina
Engana-se quem pensa que aquele senhor de meia-idade, solteiro, e que adora crianças seja o típico agressor sexual. Esse perfil, o do pedófilo típico, corresponde a uma parcela mínima dos agressores.
A maioria daqueles que atacam crianças são pessoas acima de qualquer suspeita e de qualquer classe social. Pais, tios, vizinhos e avós. Estão em todas as categorias profissionais. Algo em comum, na maioria dos casos, um histórico de uma infância de abusos.
“Na maioria dos casos, o agressor sofreu algum tipo de abuso na infância. Por isso, é importante que a pessoa passe por um tratamento para que não reproduza na fase adulta os abusos”, destacou a professora do curso de Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo, Lidia Schwarz.
Segundo a professora, na maioria dos casos as vítimas são meninas, e os agressores são os parentes próximos, inclusive o pai biológico.
“Esses abusos, algumas vezes, acontecem com a conivência da mãe da criança, que tem medo de perder a presença do chefe da casa, e inclusive acaba acusando a criança de ter seduzido o adulto”, completou.
Esses abusos causam danos irreversíveis à pessoa. “A criança fica completamente desorientada, sem saber o que fazer ou em quem confiar. A violência sexual faz com que a criança tenha problemas de comportamento, de aprendizagem, ou de relacionamento com outras pessoas”, ressaltou a professora.
Ligia Caravieri, do Crami (Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos na Infância), destaca ainda a questão sexual na criança. “É possível desconfiar de que uma criança que sofre abuso quando ela tem uma curiosidade sexual muito acima do normal. Existem casos, por exemplo, em que a criança pratica sexo oral para outra”, afirmou.
Ações do ABCD/ Questionadas em relação às ações de combate à violência infantil, Santo André informou que desenvolve trabalhos com as secretarias de Saúde, Inclusão Social, Educação e Segurança, além do Departamento de Humanidades da prefeitura.
Já em São Caetano, o programa Renascer - criado pelo município - é responsável por atender às vítimas desse tipo de violência. Ribeirão Pires e Diadema também desenvolvem trabalhos de conscientização e atendimento às vítimas. Já São Bernardo e Mauá não informaram suas ações até o fechamento desta edição.
Evandro Enoshita
Agência BOM DIA
20/03/2011 21:10
Perfil
“Na maioria dos casos, o agressor sofreu algum tipo de abuso na infãncia”
Lidia Schwarz
Professora de psicologia da Universidade Metodista de São Paulo
Experiência e dedicação ainda são as qualidades necessárias para o combate à violência sexual de crianças e adolescentes em todo o País. Há quinze anos, a secretaria de Direitos Humanos do governo federal tenta implantar o Sipia (Sistema de Informação para a Infância e a Adolescência).
Mas a implantação do sistema - um banco de dados com números da violência infantil no País - ainda esbarra na falta de estrutura dos conselhos tutelares não só do ABCD, mas de todo o Brasil. Fato que dificulta a vida daqueles que lutam para fazer cumprir os direitos das crianças.
“Até onde eu sei, os conselhos tutelares de Santo André, São Bernardo e Diadema chegaram a alimentar com dados o Sipia, mas não sei se eles estão atualizados. A atualização desse sistema esbarra na falta de estrutura, de pessoal, ou de computadores”, ressalta o vice-presidente da Comissão Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Ariel de Castro Alves.
Em uma simples consulta ao Sipia é possível ter uma ideia de até que ponto o sistema está desatualizado. Ao pesquisar os registros de abusos sexuais no estado de São Paulo dos últimos dez anos, a busca retorna apenas sete casos.
“A falta de dados sobre os abusos sexuais atrapalham na hora de formular uma política nacional ou regional de combate a este tipo de violência. No momento, dependemos de informações e ações isoladas por parte de prefeituras, entidades assistenciais e conselhos tutelares”, completou Castro Alves.
Opinião compartilhada pela coordenadora técnica do Crami (Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos na Infância), Ligia Vezzaro Caravieri. A ONG (Organização Não Governamental), que presta assistência em situações de violência infantil em Santo André, São Bernardo e Diadema. atendeu no ano passado 232 casos de violência sexual.
“Muito do nosso trabalho é baseado nas nossas experiências diárias. Com certeza a existência de um banco de dados com informações de cada cidade iria facilitar no desenvolvimento de trabalhos personalizados”, ressaltou Ligia.
Não integrados / Questionados sobre as informações sobre abusos sexuais na região, os conselhos tutelares de Mauá, Ribeirão Pires e Santo André destacaram que iriam ter que procurar em seus arquivos essas informações, justamente pelo fato de ainda não estarem integradas ao Sipia.
Procurada para comentar o funcionamento do Sipia, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República não se manifestou até o fechamento desta edição.
Ele pode estar onde você nem imagina
Engana-se quem pensa que aquele senhor de meia-idade, solteiro, e que adora crianças seja o típico agressor sexual. Esse perfil, o do pedófilo típico, corresponde a uma parcela mínima dos agressores.
A maioria daqueles que atacam crianças são pessoas acima de qualquer suspeita e de qualquer classe social. Pais, tios, vizinhos e avós. Estão em todas as categorias profissionais. Algo em comum, na maioria dos casos, um histórico de uma infância de abusos.
“Na maioria dos casos, o agressor sofreu algum tipo de abuso na infância. Por isso, é importante que a pessoa passe por um tratamento para que não reproduza na fase adulta os abusos”, destacou a professora do curso de Psicologia da Universidade Metodista de São Paulo, Lidia Schwarz.
Segundo a professora, na maioria dos casos as vítimas são meninas, e os agressores são os parentes próximos, inclusive o pai biológico.
“Esses abusos, algumas vezes, acontecem com a conivência da mãe da criança, que tem medo de perder a presença do chefe da casa, e inclusive acaba acusando a criança de ter seduzido o adulto”, completou.
Esses abusos causam danos irreversíveis à pessoa. “A criança fica completamente desorientada, sem saber o que fazer ou em quem confiar. A violência sexual faz com que a criança tenha problemas de comportamento, de aprendizagem, ou de relacionamento com outras pessoas”, ressaltou a professora.
Ligia Caravieri, do Crami (Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos na Infância), destaca ainda a questão sexual na criança. “É possível desconfiar de que uma criança que sofre abuso quando ela tem uma curiosidade sexual muito acima do normal. Existem casos, por exemplo, em que a criança pratica sexo oral para outra”, afirmou.
Ações do ABCD/ Questionadas em relação às ações de combate à violência infantil, Santo André informou que desenvolve trabalhos com as secretarias de Saúde, Inclusão Social, Educação e Segurança, além do Departamento de Humanidades da prefeitura.
Já em São Caetano, o programa Renascer - criado pelo município - é responsável por atender às vítimas desse tipo de violência. Ribeirão Pires e Diadema também desenvolvem trabalhos de conscientização e atendimento às vítimas. Já São Bernardo e Mauá não informaram suas ações até o fechamento desta edição.
Evandro Enoshita
Agência BOM DIA
20/03/2011 21:10
Perfil
“Na maioria dos casos, o agressor sofreu algum tipo de abuso na infãncia”
Lidia Schwarz
Professora de psicologia da Universidade Metodista de São Paulo
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