Maria de Medeiros Pereira, conhecida como dona Mara, moradora do Largo Santa Cecília fal-
eceu na madrugada deste domingo, no Centro de Saúde Escola da Barra Funda, para onde foi
levada no sábado, depois de muitas tentativas frustradas de atendimento pelo SAMU
Conheci Mara, há uns dois meses, quando fui participar de uma re-
união da Associação Comercial de Santa Cecilia para conver-
sarmos sobre o conflito dos moradores, comerciantes e pessoas
em situação de rua do bairro. Na época,Tina Galvão, mora-
dora dos arredores do Largo Santa Cecília, já expressava sua preo-
cupação com a saúde de Mara e para onde poderia encaminhá-
las para os cuidados que se faziam urgentes.
O nó do problema é que ela sempre se recusou a sair do Largo. Ninguém
conseguia convencêla de se tratar. Foi solicitada ao Ministé-
rio Público uma interdição judicial para que alguém cuidasse dela,
mas não se conseguiu.
Muitas histórias são contadas sobre ela,mas o fato é que ela
fez do Largo sua casa,dos bancos sua poltrona e dos transeuntes
e moradores seus familiares. Seu esposo,conhecido como Elias,
aparecida para lhe trazer comida. Há notícia que sua filha mora
no Rio de Janeiro. Segundo frequentadores do Largo, Mara já
teve uma vida muito boa. Ela recebia uma pensão de aproxima-
damente R$ 2.000,00 (dois mil reais) que,segundo, alguns fre-
quentadores do Largo, quem administrava esse dinheiro era seu
companheiro.
Conta-se que ela sempre ajudou os moradores de rua e
que, antes de ir para rua morava num hotel.
Assim era dona Mara que agora vai deixar o Largo da Santa da Ce-
cília mais vazio. E para aqueles que a conheceram e acompanharam
seus últimos momentos, uma revolta pelo jeito que veio a falecer.
No sábado, dia 11 de junho, chamado pela Tina, encontrei-a sen-
tada num banco que fica bem perto da Igreja. Quando a vi, pensei
que já estivesse morta.
Ainda respirava forte e parecia lutar para viver muito mais. Não
Desconforto - Mara não deitou porque o banco é ondulado e passou
mais de 12 horas nessa posição.
Não foi fácil conseguir um atendimento para ela,como tendo sido para
todos que estão na rua. Ao lado do banco onde estava Mara, uma base da GCM (P70330) e
mais ao fundo do Largo, uma base da PM.
A GCM dizia que não podia levá-la ao hospital e já tinha acionado
o SAMU (protocolo 831732 – 14 horas).
Já eram 15 horas e 30 minutos e o SAMU ainda não tinha apa-
recido. Liguei para o Disque 100 (15h37),mas ninguém atendeu
a opção “morador de rua”. Liguei para 156 para chamar alguma
equipe da Prefeitura,mas isso, também, não funcionou. Liguei para
o SAMU (15h42) e depois de muita briga consegui que a atendente desse prioridade.
Já eram 16 horas e o SAMU não aparecia.Liguei ao padre Júlio
Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua daArquidiocese de São
Paulo, que ligou para o defensor público, Dr.Carlos Weiss, que por
sua vez entrou em contato com os bombeiros (193) que garantiram
atendimento prioritário. Mara permanecia sentada, ou melhor,
quase deitada no banco. Ás 16h10 horas,chegou a ambulância
do SAMU.
Fizeram todos os procedimentos de emergência no Largo e levaram
Mara para o Centro de Saúde Escola da BarraFunda. Lá, segundo
informações, seu atendimento foi rápido e logo se recuperou um
pouco. Segundo fontes,o médico que a atendeu estava preparando
para interná-la, pois sua situação necessitava de cuidados espe-
ciais, pois estava bem debilitada pelos anos morando nas ruas.
Infelizmente, o esforço de tantas pessoas veio tarde. O corpo da
Mara já não tinha mais resistência. Sua morte já vinha sendo anun-
ciada por aqueles que a conheciam. Ninguém consegue viver tanto
tempo nas condições em que Mara e tantos outros companhei-
ros vivem nas ruas.
A morte até demorou pelo tempo de descaso de como as pessoas em
situação de rua são tratadas. Chegamos até culpá-la por sua
morte! Mas será? O Estado, com todos os seus instrumentos le-
gais, seus programas,serviços não foram capazes de salvar essa
vida.
A negligência,nesse caso é pouco,pois vários grupos ten-
taram ajudá-la, mas não foram eficientes. O fato é que Mara mor-
reu e outros devem estar morrendo nesse momento porque o Es-
tado não está preparado para salvar essas vidas “que não valem
nada” aos olhos de muitos. Só atrapalham!
Uma moradora de rua a menos. O Largo está com o banco vazio!
O Trecheiro
Notícias do Povo da Rua
Ano XX
Julho - 2011 -
Rede Rua de Comunicação - Rua Sampaio Moreira, 110 – Casa 9 – Brás – 03008–010 São Paulo SP – Fone - 3227-8683 - 3311-6642 - rederua@uol.com.br
eceu na madrugada deste domingo, no Centro de Saúde Escola da Barra Funda, para onde foi
levada no sábado, depois de muitas tentativas frustradas de atendimento pelo SAMU
Conheci Mara, há uns dois meses, quando fui participar de uma re-
união da Associação Comercial de Santa Cecilia para conver-
sarmos sobre o conflito dos moradores, comerciantes e pessoas
em situação de rua do bairro. Na época,Tina Galvão, mora-
dora dos arredores do Largo Santa Cecília, já expressava sua preo-
cupação com a saúde de Mara e para onde poderia encaminhá-
las para os cuidados que se faziam urgentes.
O nó do problema é que ela sempre se recusou a sair do Largo. Ninguém
conseguia convencêla de se tratar. Foi solicitada ao Ministé-
rio Público uma interdição judicial para que alguém cuidasse dela,
mas não se conseguiu.
Muitas histórias são contadas sobre ela,mas o fato é que ela
fez do Largo sua casa,dos bancos sua poltrona e dos transeuntes
e moradores seus familiares. Seu esposo,conhecido como Elias,
aparecida para lhe trazer comida. Há notícia que sua filha mora
no Rio de Janeiro. Segundo frequentadores do Largo, Mara já
teve uma vida muito boa. Ela recebia uma pensão de aproxima-
damente R$ 2.000,00 (dois mil reais) que,segundo, alguns fre-
quentadores do Largo, quem administrava esse dinheiro era seu
companheiro.
Conta-se que ela sempre ajudou os moradores de rua e
que, antes de ir para rua morava num hotel.
Assim era dona Mara que agora vai deixar o Largo da Santa da Ce-
cília mais vazio. E para aqueles que a conheceram e acompanharam
seus últimos momentos, uma revolta pelo jeito que veio a falecer.
No sábado, dia 11 de junho, chamado pela Tina, encontrei-a sen-
tada num banco que fica bem perto da Igreja. Quando a vi, pensei
que já estivesse morta.
Ainda respirava forte e parecia lutar para viver muito mais. Não
Desconforto - Mara não deitou porque o banco é ondulado e passou
mais de 12 horas nessa posição.
Não foi fácil conseguir um atendimento para ela,como tendo sido para
todos que estão na rua. Ao lado do banco onde estava Mara, uma base da GCM (P70330) e
mais ao fundo do Largo, uma base da PM.
A GCM dizia que não podia levá-la ao hospital e já tinha acionado
o SAMU (protocolo 831732 – 14 horas).
Já eram 15 horas e 30 minutos e o SAMU ainda não tinha apa-
recido. Liguei para o Disque 100 (15h37),mas ninguém atendeu
a opção “morador de rua”. Liguei para 156 para chamar alguma
equipe da Prefeitura,mas isso, também, não funcionou. Liguei para
o SAMU (15h42) e depois de muita briga consegui que a atendente desse prioridade.
Já eram 16 horas e o SAMU não aparecia.Liguei ao padre Júlio
Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua daArquidiocese de São
Paulo, que ligou para o defensor público, Dr.Carlos Weiss, que por
sua vez entrou em contato com os bombeiros (193) que garantiram
atendimento prioritário. Mara permanecia sentada, ou melhor,
quase deitada no banco. Ás 16h10 horas,chegou a ambulância
do SAMU.
Fizeram todos os procedimentos de emergência no Largo e levaram
Mara para o Centro de Saúde Escola da BarraFunda. Lá, segundo
informações, seu atendimento foi rápido e logo se recuperou um
pouco. Segundo fontes,o médico que a atendeu estava preparando
para interná-la, pois sua situação necessitava de cuidados espe-
ciais, pois estava bem debilitada pelos anos morando nas ruas.
Infelizmente, o esforço de tantas pessoas veio tarde. O corpo da
Mara já não tinha mais resistência. Sua morte já vinha sendo anun-
ciada por aqueles que a conheciam. Ninguém consegue viver tanto
tempo nas condições em que Mara e tantos outros companhei-
ros vivem nas ruas.
A morte até demorou pelo tempo de descaso de como as pessoas em
situação de rua são tratadas. Chegamos até culpá-la por sua
morte! Mas será? O Estado, com todos os seus instrumentos le-
gais, seus programas,serviços não foram capazes de salvar essa
vida.
A negligência,nesse caso é pouco,pois vários grupos ten-
taram ajudá-la, mas não foram eficientes. O fato é que Mara mor-
reu e outros devem estar morrendo nesse momento porque o Es-
tado não está preparado para salvar essas vidas “que não valem
nada” aos olhos de muitos. Só atrapalham!
Uma moradora de rua a menos. O Largo está com o banco vazio!
O Trecheiro
Notícias do Povo da Rua
Ano XX
Julho - 2011 -
Rede Rua de Comunicação - Rua Sampaio Moreira, 110 – Casa 9 – Brás – 03008–010 São Paulo SP – Fone - 3227-8683 - 3311-6642 - rederua@uol.com.br
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