Artista colocou obra na Cracolândia para chamar atenção das autoridades. Padre Lancelloti apoia ideia, mas usuários de drogas quebraram santa neste sábado.
Um fotógrafo e artista plástico causou polêmica na Cracolândia, região central de São Paulo conhecida pela presença de usuários de drogas, ao instalar a imagem de Virgem Maria à frente de uma parede com fundo azul e as seguintes inscrições em dourado sobre ela: “Nossa Senhora do Crack”. Acima dela, há uma luminária. A obra com a estrutura de gesso, presente nas igrejas católicas, foi feita por Zarella Neto e colocada na Rua Apa, em Santa Cecília, na sexta-feira (22).
A obra do artista estava na fachada de uma casa abandonada até a manhã deste sábado (23), quando dependentes químicos revoltados com o uso da imagem a destruíram.
Neto afirmou que sua intenção foi a de chamar a atenção das autoridades para o problema com as drogas na região. Para isso, ofereceu uma espécie de padroeira aos viciados que se concentram em frente ao local todos os dias para fumar cachimbos de crack.
Polêmica
“Eu achei uma ofensa à Nossa Senhora, eu como católico, não aprovo”, disse o frentista Luciano dos Santos.
Usuários de crack, que não quiseram se identificar, também não aprovaram o uso da imagem. "Achei ridículo. Na minha opinião é um pecado sem tamanho. Pusesse um outro nome, Nossa senhora da Apa, rogai por nós”, disse uma usuária.
“Quem fez isso aí errou, não devia ter feito porque, queira ou não, não pode envolver uma santa com o crack, que é uma santa da igreja, coisa de Deus, então nós tem que respeitar”, disse outro usuário.
Revolta
Nesta manhã, um grupo de usuários de drogas ficou revoltado com a obra. Um homem se dependurou na imagem e a derrubou no chão. “Nós quebramos porque é a santa do mal, é como se fosse a santa do mal. A santa do crack”, disse um usuário.
“Porque o crack não é bom, o crack não é de Deus e a santa é uma santa divina, uma coisa boa”, afirmou uma usuária.
Apoio
O padre Julio Lancelotti que trabalha com moradores de rua e dependentes químicos, diz que a idéia do artista foi louvável por levar uma esperança para quem vive no mundo das drogas. "Eu acho que agora quebrada ela ficou mais parecida com o povo que está aqui", disse o padre.
A moradora Maria Aparecida levou o que sobrou da imagem para casa. “Eu fiquei muito com pena, fazer isso. Vou deixar lá na porta do meu barraco”.
O que diz o artista
A idéia do artista que nasceu e mora no bairro há 33 anos era o de chamar a atenção das autoridades e moradores para o problema da Cracolândia. “Não tem a Nossa Senhora de Fátima, de Guadalupe, ela tá na Cracolândia porque ela é protetora do pessoal. Se na terra ninguém faz nada por eles, a santa seria a protetora”, disse Neto, que não imaginava que a obra fosse causar tanta polêmica.
O artista afirmou que vai colocar uma nova imagem da santa no lugar da que foi destruída.
Do G1 SP
23/07/2011 12h32 - Atualizado em 23/07/2011 21h57
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