Um talento consumido pela droga:O flautista Charles Pereira Gonçalves gravou CD e fez sucesso na década de 90. Viciado em crack, decidiu fazer tratamento graças à Polícia Militar
Nas cinzentas ruas de São Paulo, ele parece apenas mais um, invisível atrás de um cachimbo de crack. Mas basta um pouco de atenção para perceber que Charles Pereira Gonçalves, de 37 anos, é diferente. De seus lábios, saem as notas perfeitas de uma canção de Nelson Gonçalves. "Charles da Flauta" foi uma promessa musical quando pequeno. Gravou um disco no início da década de 90, fez sucesso e chegou a tocar na Europa.O início do fim da carreira como artista se deu na primeira baforada. Rendido ao crack, ele se afastou dos palcos. Hoje, Charles vive em uma alça de acesso da Avenida Roberto Marinho, na Zona Sul. Ele toca nas ruas para conseguir alguns trocados que possam sustentar o seu vício.
Encontro / Desde maio, o capitão Robson Cabanas, comandante da 1ª Companhia do 12º Batalhão, faz questionários para mapear os usuários de drogas que frequentam o Complexo Roberto Marinho (antiga Favela Águas Espraiadas). Há 15 dias, Cabanas conheceu Charles. Eles conversaram e o flautista decidiu fazer tratamento para mudar de vida.
Ontem, o músico foi à primeira consulta no CAPS (Centro de Assistência e Promoção Social), acompanhado pela namorada Cilene Rosângela da Silva, 37 anos. "Somos uma semente que está sendo plantada, um sinal de que dá para a polícia se aproximar do usuário."
Charles está confiante em relação ao futuro. "Eu tenho vontade de crescer e conquistar tudo que meu dom pode oferecer. Eu quero mudar de vida, ficar limpo. Cair é do homem, mas levantar é de Deus", afirma.
Entre os 30 abordados, só três aceitaram tratamento médico
Na manhã desta terça-feira, a Prefeitura e Polícia Militar realizaram operação no Brooklin, Zona Sul, onde pelo menos 30 usuários de crack ficam concentrados. Ninguém foi preso e funcionários municipais recolheram carroças, alimentos e lixo. "Espero que o prefeito tenha noção de que todos passarão fome e frio nesta noite", disse um dos usuários, que preferiu não se identificar. Todos foram legitimados pela polícia e ninguém foi preso.
Dentre os abordados, além de Charles e sua namorada, apenas um usuário aceitou tratamento médico e foi levado ao CAPS.
A Prefeitura de São Paulo estuda criar centros para abrigar provisoriamente usuários tirados à força das ruas. Hoje, eles só podem ser encaminhados para atendimento se aceitarem.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que, nos últimos dois anos, quatro mil pessoas em situação de ruas foram encaminhadas para atendimento médico. Em média, cada uma foi internada mais de duas vezes. Foram feitas 1.705 internações, 111 delas involuntárias ou compulsórias. Destas, 70 são de menores.
Thaís Nunes : DIÁRIO SP
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