Higienismo em SP, capítulo dois
Na CartaCapital
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Depois do
episódio do metrô em Higienópolis, no qual moradores do bairro
paulistano lutaram contra a construção de uma estação de metrô na
região com o intuito de afastar “gente diferenciada” (entenda-se
“pobres”), um novo capítulo higienista começa a ser escrito em São
Paulo. “É de provocar inveja a qualquer higienista social do Terceiro
Reich a demonstração de tal insensibilidade”. A declaração é do
promotor público Maurício Antonio Ribeiro Lopes, dada ao jornal O Estado de S. Paulo desta
sexta-feira (14), sobre um abaixo-assinado entregue esta semana no
Ministério Público por comerciantes e moradores do bairro de Pinheiros,
de classe média. Os moradores pedem a manutenção do endereço do
albergue Cor da Prefeitura, que abriga pessoas em situação de rua, onde
está atualmente, em uma região considerada por eles como menos nobre do
bairro.
Com a mudança da
Rua Cardeal Arcoverde, 1968, para um outro trecho do mesmo endereço, o
3041, o governo municipal quer oferecer melhores condições para o
funcionamento do centro, que terá, no novo prédio, mais quartos. Mas a
mudança para o local entre as ruas Simão Álvares e Deputado Lacerda
Franco, alvoroçou os ânimos dos moradores dessa área. A iniciativa
reuniu 1.200 assinaturas contra a mudança, mas teve um efeito contrário
no promotor que recebeu o pedido que chegou a compará-la às tomadas
pela Alemanha Nazista.
No pedido, os
moradores alegam que com a chegada do albergue “o comércio
possivelmente não vai sobreviver, uma vez que a população local será
acuada em suas residências e os visitantes de outros bairros vão nos
trocar por centros comerciais mais tranquilos”. Eles afirmam não terem
sido consultados sobre a abertura do albergue e que “a decisão foi
tomada sem a prévia consulta com as Associações de Moradores e
Comerciantes do Bairro”.
Num outro
trecho, dizem que mesmo que o “efetivo da polícia dobre,vai ser difícil
acabar com a insegurança (pois já temos históricos na própria rua Simão
Álvares de ataques de cachorros de moradores de rua em crianças e
idosos, com BO registrado)”.
Os moradores ainda temem que durante o dia esses moradores se espalhem pelos arredores do bairro de Pinheiros e Vila Madalena.
O promotor
Ribeiro Lopes indeferiu o pedido e enviou os nomes de seis pessoas que
assinaram a petição para a Delegacia de Polícia Especializada em Crimes
Raciais de Delitos de Intolerância. Eles serão investigados por
intolerância social, prevista na Constituição (art. 5.º, inciso 41).
“Esse pedido é muito revoltante”, disse ele nesta quinta-feira 13 à
reportagem do Estadão.
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