FAS.Comunica - Juan
Plassaras: Numa entrevista coletiva, a Pastoral da Rua, expressou a
sua vivencia com dependentes químicos e deu conhecer o
posicionamento do Arcebispo de São Paulo, Cardeal
Odilo Pedro Scherer, sobre a metodologia
aplicada no despejo, da área da Cracolândia.
Nesta manhã, na
casa de Oração se congregarão, diversas
entidades, movimentos sociais e ordens religiosas que atuam junto a
população de rua. O encontro, coordenado pelo Pde Julio
Lancelloti., teve depoimentos e testemunhas, dos integrantes da
“Aliança para a Misericórdia”, “Restaura-me”, e
a “Comunidade do Belém”. Esta última, atuo junto
aos despejados desde o inicio ação Policial. Sofrendo,
a mesma segregação e violência, que os
dependentes químicos. Revistas, insultos e ameaças,
foram os termos para com a Comunidade, por parte de comerciantes e
policiais.
O “Arsenal da
Esperança”, a “Pastoral do Menor” e o “Movimento
Nacional da População de Rua” estiveram presentes,
junto aos reporters dos meios de comunicação de massa
que entrevistaram aos diferentes atores sociais e ao prelado
católico.
A Pastoral de Rua fez
circular um comunicado que reproduz a entrevista do Cardel Odilo
Pedro Scherer que condena a violência aplicada na ação
nestes termos:
Igreja não aprova desrespeito com o que resta de dignidade humana nos usuários de drogas
Nesta entrevista
exclusiva, o arcebispo metropolitano de São Paulo, cardeal dom
Odilo Pedro Scherer, fala sobre a ação do poder público
na área da chamada "Cracolândia", na região
central da cidade.
O arcebispo afirma que é preciso
combater o uso ilegal das drogas e a ação criminosa dos
traficantes, mas critica os métodos violentos e desrespeitosos
que estão sendo utilizados pela Prefeitura de São Paulo
e pelo Governo Estadual na ação de retomada da
"Cracolândia". Dom Odilo fala, também, sobre a
presença positiva e eficaz da Igreja nesses locais de
degradação humana.
Veja a
entrevista do cardeal
O SÃO PAULO - Qual
a avaliação do senhor sobre a ação da
Prefeitura e do Governo Estadual na área da chamada
“Cracolândia”?
Dom Odilo Pedro Scherer - O
tráfico e o consumo de entorpecentes é um problema
grave, que precisa ser enfrentado com decisão e medidas
adequadas pelas autoridades competentes. Além de ser ilegal, e
de o tráfico ser criminoso, esse problema traz prejuízo
enorme à saúde e degrada a dignidade humana nos
usuários e dependentes das drogas. Mais grave ainda, quando se
desenvolvem áreas de tráfico e consumo mais ou menos
“livres” em alguma área da cidade, como é o caso da
cracolândia, de São Paulo. Não é pensável
que as autoridades façam vista grossa e deixem certos espaços
entregues aos traficantes e gestores do comércio de morte. Por
isso, a ação atenta e permanente das autoridades é
necessária.
O SÃO PAULO - Os
métodos usados estão sendo os mais adequados?
Dom Odilo Pedro Scherer - Outra
questão é a que se refere aos métodos empregados
na ação das autoridades competentes. É evidente
que não se pode aprovar o uso da violência e de métodos
desrespeitosos daquilo que resta de dignidade humana nos usuários
e dependentes das drogas. Espalhar por outras áreas da cidade
os dependentes, sem que seja dada a eles uma ajuda eficaz, também
não parece uma boa solução; e a repressão
do consumo, sem coibir e punir, com medidas adequadas, a produção
e o tráfico de drogas, também não resolve o
problema.
O SÃO PAULO - Qual
a importância da presença da Igreja neste tipo de
ambiente de degradação social?
Dom Odilo Pedro Scherer - Antes
de tudo, é preciso afirmar que há uma longa e corajosa
presença da Igreja junto aos dependentes químicos, para
lhes oferecer a possibilidade de abandonar o consumo e a dependência
das drogas. Exemplos bons disso são a Campanha da Fraternidade
de 2001, sobre as drogas (“vida, sim, drogas, não!”); as
Fazendas da Esperança e muitas outras instituições
voltadas para o socorro e a recuperação dos dependentes
químicos. Na área da “cracolândia” atuam
diversas organizações da Igreja, como o Vicariato do
Povo da Rua, a Missão Belém, a Aliança de
Misericórdia, os Irmãos de Emaús e outros mais.
Tive a informação de que, com a atuação
solidária e de convencimento, apenas da Missão Belém,
nas últimas semanas, desde antes do Natal, cerca de 150
dependentes de drogas deixaram a área e foram acolhidos nos
locais de recuperação. As organizações da
Igreja têm seu método próprio, muito eficaz, para
tratar com o problema e para recuperar os dependentes. Não
basta a desintoxicação do organismo, mas é
preciso recuperar a pessoa, no seu todo, e ajudá-la a
recuperar o sentido da vida. Muito amor, respeito, dedicação,
fé em Deus fazem parte desse método.
O SÃO PAULO - E
como enfrentar a ação dos traficantes de drogas?
Dom Odilo Pedro Scherer - Este
é o problema mais complexo, pois envolve vários tipos
de interesses e responsabilidades, com quantias enormes de ganhos com
negócios ilícitos e com o “comércio da morte”,
como bem definiu o papa Bento 16 na Fazenda da Esperança, em
maio de 2007. O enfrentamento desse problema cabe às
autoridades constituídas e competentes. A Igreja só
pode apelar que os promotores da produção e do tráfico
de drogas se convertam e abandonem esse caminho de maldade; foi ainda
Bento 16 quem lhes lembrou que, um dia, deverão prestar contas
a Deus por toda vida perdida e pelos sofrimentos causados aos outros
com suas ações. A penitência e a conversão
são caminhos abertos a todos.
Publicado na edição de
11/01/2012 do Jornal O SÃO PAULOReprodução autorizada com citação da fonte
0 comments:
Postar um comentário
Muito obrigado pelo seu comentario