Pesquisadores pretendem criar modelo de centro de convivência de adolescentes com maior probabilidade de desenvolver transtornos, onde possam ser concentradas ações de prevenção em saúde mental (Wikimedia)
Agência FAPESP – Estudos indicam que é especialmente na adolescência que surgem os transtornos mentais – como depressão, esquizofrenia e transtorno bipolar –, classificados como o conjunto de doenças crônicas que atualmente mais afetam a população na faixa etária de 10 a 24 anos no mundo.
Com base nessa constatação, países como a Austrália e o Canadá implementaram centros de prevenção de transtornos mentais voltados especificamente a jovens, de modo a diagnosticar adolescentes que apresentam ou que estão expostos a fatores de risco que potencializam o desenvolvimento de adições, estados depressivos e transtornos mentais graves como esquizofrenia e transtorno afetivo bipolar. Um grupo de pesquisadores dos departamentos de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Universidade de São Paulo (USP) e da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (FMRP) pretende replicar essa experiência no Brasil.
O objetivo é criar em São Paulo um modelo de centro de convivência de jovens com maior probabilidade de desenvolver transtornos do neurodesenvolvimento, que possa concentrar ações de prevenção em saúde mental. O projeto foi apresentado por Jair de Jesus Mari, professor do Departamento de Psiquiatria da Unifesp e coordenador da iniciativa, em conferência realizada no dia 25 de julho na 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em São Luís (MA). De acordo com Jesus Mari, o objetivo é que o modelo de centro, com nome provisório de “Espaço Cuca Legal”, possa atrair jovens que ainda não desenvolveram transtornos mentais para serem acompanhados por uma equipe multidisciplinar de profissionais. De modo a atrair os jovens, os pesquisadores planejam oferecer atividades socioeducativas, como oficinas de leitura, teatro, música e esportes, a exemplo do que é feito nos Headspace Centres, criados pela Australia's National Youth Mental Health Foundation, nos quais o projeto brasileiro buscou inspiração. “Pretendemos garantir a identificação e intervenção precoce de jovens com maior propensão para desenvolver transtornos mentais graves, de modo a inibir ou retardar o desenvolvimento do surto psicótico e mudar o comportamento em relação aos fatores de risco conhecidos, como o uso de maconha”, disse Jesus Mari à Agência FAPESP. Segundo o pesquisador, estima-se que entre 50% e 75% dos transtornos mentais tenham início na adolescência. Porém, a falsa impressão de que os jovens são sempre muito saudáveis, além do estigma das doenças mentais, contribuem para retardar o diagnóstico e o início do tratamento, o que agrava o quadro do transtorno mental e tem repercussões por toda a vida.
“Os estudos realizados no Brasil e no exterior apontam que se pudermos intervir mais precocemente nesse grupo populacional nesta fase crítica do desenvolvimento, em que os transtornos mentais surgem, será possível diminuir a probabilidade de os jovens apresentarem, no futuro, transtornos psicóticos”, disse Jesus Mari. Alguns dos fatores considerados de risco e potencializadores do desenvolvimento de transtornos mentais são o consumo de álcool, drogas e tabagismo e exposição a situações traumáticas. Segundo Jesus Mari, como no Brasil há uma certa leniência em relação ao consumo de álcool entre jovens e experiências com drogas e cigarro nesta fase da vida são vistas muitas vezes até com um certo glamour, é preciso criar políticas públicas no país que coíbam o acesso dos jovens a substâncias psicoativas. “O uso de álcool e drogas durante a adolescência é extremamente pernicioso para o desenvolvimento cerebral dos jovens. A adolescência representa um momento em que o jovem está definindo sua identidade sexual e em que está preocupado com questões como seu futuro profissional.
O uso de álcool e drogas nesta fase da vida, principalmente se abusivo, irá interromper a progressão natural do desenvolvimento cerebral do adolescente e causar um dano que poderá ser definitivo”, alertou. Ações de prevenção O transtorno mental é classificado atualmente como um distúrbio do neurodesenvolvimento que afeta as pessoas exatamente na fase da adolescência, em que o cérebro está se reorganizando. Em função disso, o consumo de álcool, drogas e o tabagismo, além da exposição ao bullying, à violência física e sexual, fobias, depressão, ansiedade e estresse desencadeados por eventos traumáticos, aumentam o risco do desenvolvimento de reações cerebrais que podem evoluir para um transtorno mental mais grave. Diante desse quadro de agravos à saúde mental dos jovens, a promoção da prevenção de transtornos mentais em jovens tem sido bastante discutida e indicada pelos especialistas nos últimos anos.
Algumas das ações que estão sendo realizadas com adolescentes atendidos em centros de prevenção a transtornos mentais existentes na Austrália e no Canadá são a disseminação de comportamentos sexuais saudáveis, o estímulo a atividades físicas e esportivas e socioculturais e a conscientização sobre os riscos do consumo de álcool, drogas e o tabagismo na adolescência. Por meio da articulação com outros setores, como o de educação e o judiciário, os especialistas atuantes nesses centros pretendem identificar mais precocemente jovens com maior probabilidade de desenvolver transtornos mentais e que tenham dificuldade de adaptação social. Entre eles, estão estudantes que praticam bullying nas escolas, que são candidatos a apresentar comportamento agressivo e ter problemas com a justiça, além de jovens que são alvos de violência física ou psicológica no ambiente escolar, que por sua vez também podem desenvolver ansiedade, depressão e comportamento suicida. “A ideia é repetir essa experiência no modelo do centro em São Paulo, para garantir identificação e intervir precocemente em casos emergentes de jovens com maior probabilidade de desenvolver transtornos mentais graves, como, por exemplo, os que começaram a utilizar crack”, explicou Jesus Mari.
“Não podemos deixar esses adolescentes se transformarem em dependentes para intervir”, disse. Os pesquisadores pretendem iniciar esse modelo de prevenção de transtornos mentais em jovens na região de Vila Maria, na zona Norte de São Paulo, que possui cerca de 300 mil habitantes, e onde criaram uma área de capacitação. A ideia é dividir a região em seis áreas, com 50 mil habitantes cada, que serão mapeadas por agentes de saúde, para identificar os casos mais emergentes de jovens que cometeram delito, por exemplo, e encaminhá-los para atendimento no centro de prevenção de transtornos mentais. ESPCA sobre transtornos mentais na adolescência
De acordo com Jesus Mari, a prevenção de transtornos mentais na adolescência tem sido muito debatida recentemente e objeto de diversas pesquisas publicadas em revistas científicas, como a Lancet. “Isso porque, ao intervir nos transtornos mentais ainda na fase prodrômica, ou seja, antes do surgimento do primeiro surto psicótico, é possível reduzir os sintomas e a incapacitação social causada pelo desenvolvimento de uma psicose”, disse.
“Mesmo quando a pessoa desenvolve a psicose, é possível reduzir o impacto negativo, que não é apenas cerebral, mas em toda a saúde”, disse Jesus Mari. “Hoje, temos dados bastante consistentes de que, se os surtos psicóticos não forem tratados, os pacientes podem sofrer graves consequências, como maior probabilidade de desenvolver câncer ou doenças autoimunes, e ter expectativa de vida e produtividade reduzidas”, destacou. A importância de prevenir os transtornos mentais já na adolescência também será discutida durante a Y-Mind School of Advanced Science for Prevention of Mental Disorders. Promovida pela Unifesp, em parceria com USP, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade de Columbia, dos Estados Unidos, e o King’s College, da Inglaterra, o evento, realizado no âmbito do Programa Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA), da FAPESP, reunirá alguns dos mais importantes especialistas do Brasil e do exterior em desordens mentais.
Serão selecionados 100 estudantes de pós-graduação, sendo 25 do Estado de São Paulo, 25 de outros estados do Brasil e 50 do exterior, para participar da escola, que será realizada no fim de março de 2013. As informações sobre o processo de candidatura deverão ser disponibilizadas em breve no site:
www.saudedamente.com.br . 31/07/2012 Por Elton Alisson
Agência FAPESP – Estudos indicam que é especialmente na adolescência que surgem os transtornos mentais – como depressão, esquizofrenia e transtorno bipolar –, classificados como o conjunto de doenças crônicas que atualmente mais afetam a população na faixa etária de 10 a 24 anos no mundo.
Com base nessa constatação, países como a Austrália e o Canadá implementaram centros de prevenção de transtornos mentais voltados especificamente a jovens, de modo a diagnosticar adolescentes que apresentam ou que estão expostos a fatores de risco que potencializam o desenvolvimento de adições, estados depressivos e transtornos mentais graves como esquizofrenia e transtorno afetivo bipolar. Um grupo de pesquisadores dos departamentos de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Universidade de São Paulo (USP) e da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto (FMRP) pretende replicar essa experiência no Brasil.
O objetivo é criar em São Paulo um modelo de centro de convivência de jovens com maior probabilidade de desenvolver transtornos do neurodesenvolvimento, que possa concentrar ações de prevenção em saúde mental. O projeto foi apresentado por Jair de Jesus Mari, professor do Departamento de Psiquiatria da Unifesp e coordenador da iniciativa, em conferência realizada no dia 25 de julho na 64ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) em São Luís (MA). De acordo com Jesus Mari, o objetivo é que o modelo de centro, com nome provisório de “Espaço Cuca Legal”, possa atrair jovens que ainda não desenvolveram transtornos mentais para serem acompanhados por uma equipe multidisciplinar de profissionais. De modo a atrair os jovens, os pesquisadores planejam oferecer atividades socioeducativas, como oficinas de leitura, teatro, música e esportes, a exemplo do que é feito nos Headspace Centres, criados pela Australia's National Youth Mental Health Foundation, nos quais o projeto brasileiro buscou inspiração. “Pretendemos garantir a identificação e intervenção precoce de jovens com maior propensão para desenvolver transtornos mentais graves, de modo a inibir ou retardar o desenvolvimento do surto psicótico e mudar o comportamento em relação aos fatores de risco conhecidos, como o uso de maconha”, disse Jesus Mari à Agência FAPESP. Segundo o pesquisador, estima-se que entre 50% e 75% dos transtornos mentais tenham início na adolescência. Porém, a falsa impressão de que os jovens são sempre muito saudáveis, além do estigma das doenças mentais, contribuem para retardar o diagnóstico e o início do tratamento, o que agrava o quadro do transtorno mental e tem repercussões por toda a vida.
“Os estudos realizados no Brasil e no exterior apontam que se pudermos intervir mais precocemente nesse grupo populacional nesta fase crítica do desenvolvimento, em que os transtornos mentais surgem, será possível diminuir a probabilidade de os jovens apresentarem, no futuro, transtornos psicóticos”, disse Jesus Mari. Alguns dos fatores considerados de risco e potencializadores do desenvolvimento de transtornos mentais são o consumo de álcool, drogas e tabagismo e exposição a situações traumáticas. Segundo Jesus Mari, como no Brasil há uma certa leniência em relação ao consumo de álcool entre jovens e experiências com drogas e cigarro nesta fase da vida são vistas muitas vezes até com um certo glamour, é preciso criar políticas públicas no país que coíbam o acesso dos jovens a substâncias psicoativas. “O uso de álcool e drogas durante a adolescência é extremamente pernicioso para o desenvolvimento cerebral dos jovens. A adolescência representa um momento em que o jovem está definindo sua identidade sexual e em que está preocupado com questões como seu futuro profissional.
O uso de álcool e drogas nesta fase da vida, principalmente se abusivo, irá interromper a progressão natural do desenvolvimento cerebral do adolescente e causar um dano que poderá ser definitivo”, alertou. Ações de prevenção O transtorno mental é classificado atualmente como um distúrbio do neurodesenvolvimento que afeta as pessoas exatamente na fase da adolescência, em que o cérebro está se reorganizando. Em função disso, o consumo de álcool, drogas e o tabagismo, além da exposição ao bullying, à violência física e sexual, fobias, depressão, ansiedade e estresse desencadeados por eventos traumáticos, aumentam o risco do desenvolvimento de reações cerebrais que podem evoluir para um transtorno mental mais grave. Diante desse quadro de agravos à saúde mental dos jovens, a promoção da prevenção de transtornos mentais em jovens tem sido bastante discutida e indicada pelos especialistas nos últimos anos.
Algumas das ações que estão sendo realizadas com adolescentes atendidos em centros de prevenção a transtornos mentais existentes na Austrália e no Canadá são a disseminação de comportamentos sexuais saudáveis, o estímulo a atividades físicas e esportivas e socioculturais e a conscientização sobre os riscos do consumo de álcool, drogas e o tabagismo na adolescência. Por meio da articulação com outros setores, como o de educação e o judiciário, os especialistas atuantes nesses centros pretendem identificar mais precocemente jovens com maior probabilidade de desenvolver transtornos mentais e que tenham dificuldade de adaptação social. Entre eles, estão estudantes que praticam bullying nas escolas, que são candidatos a apresentar comportamento agressivo e ter problemas com a justiça, além de jovens que são alvos de violência física ou psicológica no ambiente escolar, que por sua vez também podem desenvolver ansiedade, depressão e comportamento suicida. “A ideia é repetir essa experiência no modelo do centro em São Paulo, para garantir identificação e intervir precocemente em casos emergentes de jovens com maior probabilidade de desenvolver transtornos mentais graves, como, por exemplo, os que começaram a utilizar crack”, explicou Jesus Mari.
“Não podemos deixar esses adolescentes se transformarem em dependentes para intervir”, disse. Os pesquisadores pretendem iniciar esse modelo de prevenção de transtornos mentais em jovens na região de Vila Maria, na zona Norte de São Paulo, que possui cerca de 300 mil habitantes, e onde criaram uma área de capacitação. A ideia é dividir a região em seis áreas, com 50 mil habitantes cada, que serão mapeadas por agentes de saúde, para identificar os casos mais emergentes de jovens que cometeram delito, por exemplo, e encaminhá-los para atendimento no centro de prevenção de transtornos mentais. ESPCA sobre transtornos mentais na adolescência
De acordo com Jesus Mari, a prevenção de transtornos mentais na adolescência tem sido muito debatida recentemente e objeto de diversas pesquisas publicadas em revistas científicas, como a Lancet. “Isso porque, ao intervir nos transtornos mentais ainda na fase prodrômica, ou seja, antes do surgimento do primeiro surto psicótico, é possível reduzir os sintomas e a incapacitação social causada pelo desenvolvimento de uma psicose”, disse.
“Mesmo quando a pessoa desenvolve a psicose, é possível reduzir o impacto negativo, que não é apenas cerebral, mas em toda a saúde”, disse Jesus Mari. “Hoje, temos dados bastante consistentes de que, se os surtos psicóticos não forem tratados, os pacientes podem sofrer graves consequências, como maior probabilidade de desenvolver câncer ou doenças autoimunes, e ter expectativa de vida e produtividade reduzidas”, destacou. A importância de prevenir os transtornos mentais já na adolescência também será discutida durante a Y-Mind School of Advanced Science for Prevention of Mental Disorders. Promovida pela Unifesp, em parceria com USP, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade de Columbia, dos Estados Unidos, e o King’s College, da Inglaterra, o evento, realizado no âmbito do Programa Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA), da FAPESP, reunirá alguns dos mais importantes especialistas do Brasil e do exterior em desordens mentais.
Serão selecionados 100 estudantes de pós-graduação, sendo 25 do Estado de São Paulo, 25 de outros estados do Brasil e 50 do exterior, para participar da escola, que será realizada no fim de março de 2013. As informações sobre o processo de candidatura deverão ser disponibilizadas em breve no site:
www.saudedamente.com.br . 31/07/2012 Por Elton Alisson
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