Um vendedor ambulante passa por uma rua do centro de São Paulo com seu carrinho e oferece espetinhos de carne e bebidas, às 23h da última terça. Seus clientes são parte de um grupo de cerca de 400 viciados em crack que perambulam pela cracolândia.
AFONSO BENITES
TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO
A chegada do comércio informal à região, que também tem uma espécie de "mercado de pulgas" onde as pessoas permutam desde tênis até peças de rádio, comprova que, ao contrário do que previam as autoridades, a cracolândia não morreu.
Ela diminuiu, com a migração de dependentes para outras regiões da cidade, e se espalhou pelo próprio centro.
Na próxima terça-feira, fará seis meses que a PM intensificou sua presença na área, com a promessa de acabar com o tráfico e abrir espaço para que agentes de saúde pudessem levar mais dependentes para o tratamento.
No entanto, o tráfico de drogas ainda persiste, conforme a Folha constatou na semana passada em sete visitas às ruas da região.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o número de atendimentos aos dependentes continuou o mesmo de antes da operação, mesmo após a inauguração do Complexo Prates, principal serviço público voltado para os dependentes de crack.
Eduardo Anizelli-28.jun.2012/Folhapress | ||
Usuários de crack reunidos, na quinta-feira, na rua dos Gusmões, no centro de São Paulo |
AÇÃO JUDICIAL
Levantamento do Ministério Público mostra que só um terço das pessoas encaminhadas para internação nas clínicas da prefeitura em janeiro, mês da entrada da PM na cracolândia, continuava o tratamento três meses depois.
O tratamento deveria durar seis meses, segundo o promotor Arthur Pinto Filho, que vai entrar com uma ação contra prefeitura e governo do Estado exigindo um sistema eficaz de tratamento.
O promotor diz que o Complexo Prates, inaugurado três meses após o início da operação policial, está "subutilizado" -mesma opinião da Comissão de Saúde da Câmara Municipal, que esteve no local no fim de abril. A reportagem esteve duas vezes no complexo na semana passada e constatou sua ociosidade.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
PREJUÍZO
A avaliação do Ministério Público, da ONG "É de Lei", que atua na região, e de especialistas ouvidos pela Folha é que a ação da polícia prejudicou o trabalho desenvolvido pela prefeitura na área desde 2009, com agentes de saúde.
Esses agentes atuavam sempre na mesma região, com o objetivo de estabelecer vínculo com os usuários de crack e, aos poucos, convencê-los a buscar tratamento.
Eles dizem que, ao espalhar os dependentes, a PM quebrou o vínculo e os agentes passaram a ser vistos como a força policial pelos usuários, que se afastaram. A prefeitura discorda e diz que o trabalho foi facilitado.
"Tratar a questão social da exclusão, do uso do crack e sua dependência por abordagem policial é um equívoco", diz o diretor do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, Cristiano Maronna.
Folha de São Paulo
AFONSO BENITES
TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO
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