Situação do abrigo que deveria proteger as vítimas é mais um exemplo de descaso e omissão do Estado no combate à violência contra as mulheres.
Flaviana Serafim - CUT/SP
O espaço que deveria abrigar, proteger e apoiar as mulheres vítimas da violência passa por um estado de calamidade. A Casa Viviane dos Santos, em Guaianzes (zona leste da Capital) foi assaltada 12 vezes desde maio último sem que a Polícia Militar ou a Guarda Civil Metropolitana tomassem qualquer providência.
O último ataque à Casa foi na última quinta (22) quando, sem ter mais o que roubar, os assaltantes depredaram e picharam todo o prédio. O abrigo funciona numa parceria entre a Prefeitura de São Paulo e a ONG Associação de Voluntários Integrados no Brasil mas, segundo denunciam as funcionárias, numa via de mão única onde a gestão Kassab se exime de suas responsabilidades na prestação do serviço.
Em entrevista à CUT/SP, a coordenadora Thatiane Coghi Ladeira fez um desabafo e esmiuçou os problemas enfrentados.
Qual é a situação atual Casa Viviane dos Santos?
Thathiane Goghi Ladeira: Tivemos que tirar todos os bens de dentro da casa e mesmo assim os assaltantes entram no local, como aconteceu no dia 22 de novembro. Foi o 12º roubo desde maio desse ano. Roubaram um botijão de gás, modem e alimentos e, quando perceberam que quase não tinha o que levar, partiram para o vandalismo. Deixaram o espaço degradante, com mensagens assinadas por facções criminosas pichadas nas paredes, defecaram pela casa e arrancaram até as grades de proteção.
Thathiane Goghi Ladeira: Tivemos que tirar todos os bens de dentro da casa e mesmo assim os assaltantes entram no local, como aconteceu no dia 22 de novembro. Foi o 12º roubo desde maio desse ano. Roubaram um botijão de gás, modem e alimentos e, quando perceberam que quase não tinha o que levar, partiram para o vandalismo. Deixaram o espaço degradante, com mensagens assinadas por facções criminosas pichadas nas paredes, defecaram pela casa e arrancaram até as grades de proteção.
"Prefeitura não tem noção da complexidade do que fazemos. Lidamos com situações de muita violência"
E como fica o atendimento às mulheres em meio a esse caos?
Thathiane: É bem complicado. Estamos tentando resistir bravamente Houve o caso de uma mulher que, sem conseguir vaga no abrigo, foi encaminhada para um hotel, mas sua bolsa ficou na Casa e foi furtada. Quando há roubo nós suspendemos o atendimento, arrumamos o espaço e retomamos as atividades. Mas assim não conseguimos dar uma continuidade ao trabalho.
Thathiane: É bem complicado. Estamos tentando resistir bravamente Houve o caso de uma mulher que, sem conseguir vaga no abrigo, foi encaminhada para um hotel, mas sua bolsa ficou na Casa e foi furtada. Quando há roubo nós suspendemos o atendimento, arrumamos o espaço e retomamos as atividades. Mas assim não conseguimos dar uma continuidade ao trabalho.
E o que a prefeitura e o governo estadual de São Paulo argumentam quando vocês denunciam os roubos? Quais providências foram tomadas?
Thathiane: Oficialmente não temos resposta. Só temos resposta verbal de que não é possível ter efetivo da Guarda Civil Metropolitana porque a GCM está voltada às questões dos ambulantes irregulares e não à proteção do patrimônio público. E quando pedimos uma viatura da Policia Militar para podermos entrar no abrigo, a PM nos diz que não faz segurança particular. O poder público trata nossa situação no âmbito do “privilégio”, alegando que, se nenhum serviço conveniado tem segurança, porque o abrigo tem que ter? Eles não tem noção da complexidade do trabalho que fazemos e, inclusive, do atendimento à mulheres agredidas por homens ligados à organizações criminosas. É uma lógica privatista de que se queremos segurança temos que pagar.
Thathiane: Oficialmente não temos resposta. Só temos resposta verbal de que não é possível ter efetivo da Guarda Civil Metropolitana porque a GCM está voltada às questões dos ambulantes irregulares e não à proteção do patrimônio público. E quando pedimos uma viatura da Policia Militar para podermos entrar no abrigo, a PM nos diz que não faz segurança particular. O poder público trata nossa situação no âmbito do “privilégio”, alegando que, se nenhum serviço conveniado tem segurança, porque o abrigo tem que ter? Eles não tem noção da complexidade do trabalho que fazemos e, inclusive, do atendimento à mulheres agredidas por homens ligados à organizações criminosas. É uma lógica privatista de que se queremos segurança temos que pagar.
E se a proposta é essa, a segurança privada não é possível?
Thathiane: Nós aceitamos a segurança privada desde que seja prevista no convênio entre a prefeitura e a associação. Quando a prefeitura se propõe ao convênio com uma ONG, é preciso entender que a natureza de certos serviços precisam ser consideradas. O serviço é de uma natureza que exige segurança não só na Casa Viviane dos Santos, mas em todas as unidades conveniadas porque lidamos com situações de muita violência.
Thathiane: Nós aceitamos a segurança privada desde que seja prevista no convênio entre a prefeitura e a associação. Quando a prefeitura se propõe ao convênio com uma ONG, é preciso entender que a natureza de certos serviços precisam ser consideradas. O serviço é de uma natureza que exige segurança não só na Casa Viviane dos Santos, mas em todas as unidades conveniadas porque lidamos com situações de muita violência.
"Assaltos começaram quando o movimento de mulheres passou a questionar a prefeitura sobre as condições de atendimento"
E quais serão os caminhos para tentar manter o atendimento diante do descaso da prefeitura?
Thathiane: Nossa proposta é mudar a Casa para a região do Lajeado, onde não há um centro de referência. Hoje, há um centro de referência a 15 minutos do nosso, em Guaianazes. O movimento de mulheres já apontou a existência de dois centros num mesmo lugar enquanto o Lajeado precisa de atendimento, mas nada foi feito porque a casa já estava alugada pela prefeitura. A gestão municipal se orientou muito mais pela lógica do imóvel alugado do que pela necessidade do espaço em si.
Thathiane: Nossa proposta é mudar a Casa para a região do Lajeado, onde não há um centro de referência. Hoje, há um centro de referência a 15 minutos do nosso, em Guaianazes. O movimento de mulheres já apontou a existência de dois centros num mesmo lugar enquanto o Lajeado precisa de atendimento, mas nada foi feito porque a casa já estava alugada pela prefeitura. A gestão municipal se orientou muito mais pela lógica do imóvel alugado do que pela necessidade do espaço em si.
Como a entidade avalia tamanho abandono e descaso por parte da prefeitura?
Thathiane: Não temos como comprovar o interesse político da prefeitura em acabar com o nosso serviço. Porém, há circunstâncias muito estranhas porque os assaltos começaram quando o movimento de mulheres passou a questionar a prefeitura sobre as condições de atendimento. Como a prefeitura não dá cobertura, para nós é uma prova de que a gestão municipal tem uma resistência com a ONG, com a forma que temos para tratar a questão porque é uma entidade realmente feminista. A partir do momento que a prefeitura não dá suporte, ela outorga que não tem interesse na execução dos serviços.
Thathiane: Não temos como comprovar o interesse político da prefeitura em acabar com o nosso serviço. Porém, há circunstâncias muito estranhas porque os assaltos começaram quando o movimento de mulheres passou a questionar a prefeitura sobre as condições de atendimento. Como a prefeitura não dá cobertura, para nós é uma prova de que a gestão municipal tem uma resistência com a ONG, com a forma que temos para tratar a questão porque é uma entidade realmente feminista. A partir do momento que a prefeitura não dá suporte, ela outorga que não tem interesse na execução dos serviços.
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