Pacientes com problemas de saúde mental serão
prejudicados com fechamento de ala em Centro de Atenção Integrada
01/02/2013
por Igor Carvalho
O Centro de Atenção
Integrada em Saúde Mental Doutor David Capistrano da Costa Filho (Caism-SP), da
Água Funda, está sofrendo pressão da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo
(SES-SP) para que funcionários de uma ala destinada a pessoas com problemas de
saúde mental passem a cuidar exclusivamente de dependentes químicos oriundos
das ações de internação compulsória. Documento obtido pelo SPressoSP
comprova a orientação da diretoria da unidade e funcionários denunciam que a
ordem teria vindo da secretaria.
Histórico
01/02/2013
por Igor Carvalho
Uma ala, que está sendo
construída desde junho de 2012, será inaugurada em 7 de fevereiro, porém, não
há funcionários contratados para trabalhar no novo setor, que está programado
para receber dependentes químicos. A solução encontrada pela secretaria, em
conjunto com a direção do Caism, foi fechar uma ala com 24 leitos que atende
pacientes com problemas de saúde mental e transferir os funcionários para
atender na nova ala. “A Secretaria está pressionando por novos leitos para a
internação compulsória, caiu a diretora do Catrod [Centro de Referência de
Álcool, Tabaco e Outras Drogas] e a direção está com receio de novas
demissões”, informou um funcionário da unidade, que pediu para ter a identidade
preservada, citando a ex-diretora do Catrod, Marta Jezierski, demitida por
discordar da internação compulsória de dependentes químicos.
O SPressoSP teve
acesso a uma ata de reunião, ocorrida no dia 30 de janeiro, entre a direção do
Caism e os funcionários, em que a orientação de fechamento da ala é explicitada
pelo médico Amaury Henrique da Silva, assistente da direção do centro. Estava
presente também diretora do Caism Claudia Farah Kotait Buchatsky, ambos assinam
a ata (ver imagem acima).
De acordo com a ata,
“Paulo (funcionário da unidade) solicita registrar na ata: ‘o que vai acontecer
com a enfermaria NA (Núcleo de Agudos)’. Dr. Amaury informa que a enfermaria
nova está praticamente pronta e estamos acionando a contratação de pessoas para
iniciar as atividades. Devido à demanda da dependência química atual, o NA será
destinado temporariamente ao atendimento deste tipo de paciente.”
Funcionários estão se
colocando contra o fechamento do NA, a ala que atende pacientes com problemas
de saúde mental, principalmente os servidores ligados ao Fórum Popular de
Saúde, movimento que cresce dentro das unidades de saúde e que discute os
modelos de gestão do setor.
Além de prejudicar
pacientes com problemas de saúde mental que precisam de tratamento, os
funcionários que serão deslocados não possuem treinamento específico para lidar
com essa nova realidade. “Esse situação do Caism, de apressar a
inauguração, mostra como o governo não tem uma política para dependentes
químicos. Estão fazendo improvisações, misturando dependência química e saúde
mental. Demonstra como essa política de internação compulsória é muito mais
higienização do que uma política de saúde”, explica o servidor.
A SES-SP, em resposta ao
SPressoSP, não desmente a informação da utilização de funcionários da
saúde mental em outra área (dependentes químicos), porém, para a secretaria, as
patologias podem ser tratadas de forma igual. ”Sobre a denúncia de que a
equipe da unidade não é preparada para atender dependentes químicos, a unidade
esclarece que a política de atendimento a dependentes faz parte da área de
saúde mental. Além disso, antes da implantação dos novos leitos, o Caism já
contava com leitos destinados exclusivamente ao tratamento de dependentes
químicos”.
Segundo a SES, 50
funcionários foram contratados para trabalhar na nova unidade, porém, a
secretaria não explica por que utilizar servidores da ala de saúde mental no
momento.
Desde o dia 11 de
janeiro, quando o governo do estado anunciou uma parceria com o Ministério
Público (MP), a Organização dos Advogados do Brasil (OAB) e o Tribunal de
Justiça de São Paulo (TJ-SP), autorizando a internação compulsória ou
involuntária, movimentos sociais e profissionais da saúde passaram a questionar
a medida e, num momento seguinte, o número de leitos para receber esses
dependentes, que seria insuficiente.
O Caism-SP disponibiliza
quatro programas à população: Hospital Dia, que não exige internação, somente
tratamento e acompanhamento do paciente; Moradia Protegida, lares abrigados,
para pessoas com doenças crônicas que não tem retaguarda familiar; Núcleo de
Comorbidade, para dependentes químicos com algum problema de saúde mental; e o
Núcleo de Agudos e Reagudizados,que será fechado temporariamente e que atende
pessoas com problemas crônicos de saúde mental.
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